sexta-feira, 19 de agosto de 2011

PY3DK DIETRICH CARLOS ADOLPHO KUHLMANN


Dietrich Carlos Adolpho Kuhlmann, gaúcho, natural de Ijui, nasceu em 02 de fevereiro de 1915, era casado com Hedi Scholz Kuhlmann e teve três filhos, Irene, Regina e Ricardo. Faleceu em 02 de junho de 2001, na cidade de Gramado-RS.
Depoimento de um radioamdor que foi preso.

Em junho de 1943, o Brasil, já em guerra, voltando de trem de Limeira para São Paulo, estou sentado no carro-restaurante com um colega de trabalho, quando é feita a fiscalização dos passageiros. Meu colega mostra a carteira de identidade dele, tudo bem, eu mostro a minha e recebo voz de prisão! Um vexame! Eu tento dialogar com o inspetor, indago o motivo de minha prisão, mas não recebo explicação. Ele tem ordem de prender, mas não de explicar. Meu colega, cujo crime é de estar na minha companhia, é apenas detido, não preso, como explica o inspetor. Que situação! Olhares hostis dos demais passageiros no carro-restaurante, cochichos (provavelmente “espião”, “quinta-coluna”, etc.).

Chegamos em São Paulo, somos conduzidos ao DOPS, identificados, fichados e fechados cada um em cela individual, no porão. Cela simples, não exatamente de 5 estrelas, com janela bem alta, para fora, gradeada, mas sem vidro, do outro lado, porta de grade de ferro, também uma cama turca, com cobertor fino e roto, um vaso sanitário e uma pia. Lá estou eu atônito e atordoado. Passei três dias com frio e fome, matutando sobre o porquê desta minha situação insólita. No terceiro dia sou solto, recebo meus pertences pessoais de volta e a recomendação de me apresentar aos Correios e Telégrafos (nesta altura já com “f”). Fui para o meu apartamentozinho no Centro, na Rua Aurora, era solteiro ainda, meus pais residiam em Porto Alegre, recém vindos de Ijuí e fiquei alguns dias de cama, com febre alta e uma infecção muito feia da garganta, conseqüência do “ar condicionado da minha suíte da qual acabava de sair”. O médico me curou, antibióticos não existiam porque toda a produção, estrangeira ainda, ia para os campos de batalha e seus hospitais.

Lá vou eu aos Correios e Telégrafos, na Avenida São João, esquina da Anhangabaú. O funcionário que me atende, muito gentil por sinal, chateado com o incômodo que sofri (bota incômodo nisso!), me explica que os Correios precisavam saber que destino eu tinha dado ao meu material de radiotransmissão e recepção, pois o País estava em guerra. Não sabendo o meu endereço, pediram ao DOPS que me localizasse e providenciasse meu comparecimento aos Correios. Fiz o meu depoimento, dizendo ter deixado todo o material com o meu amigo Ernesto Jorge Dreher - PY3AB, e o caso estava resolvido.

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